No teu sorriso fiz morada

Entrei no meu quarto pela última vez. Peguei minha jaqueta jeans surrada com uma mão, a mochila roxa com a outra, e desci as escadas. As malas já estavam no carro, e o coração na poltrona do avião. Ele sempre foi mais adiantado que eu. Não dou conta.

Olhei para trás por 40 segundos. Minha vida passou como um vídeo postado no Instagram, rápido e lindo.

Nunca decidi algo tão rápido, quanto desta vez. Afinal, não é todo dia que temos a oportunidade de escolher morar no melhor lugar do mundo.

Sim, estou de mudança. Daqui algumas horas estarei vivendo uma nova vida, e morando no lugar mais aconchegante que já pude conhecer: o sorriso dele.

Entrei no avião e encontrei o meu coração lá: sentado na janelinha, palpitando cada vez mais rápido, toda vez sentia o destino se aproximando. Voei.

Cheguei. E lá estava ele: barba por fazer, vestindo uma camisa verde, calça jeans e um tênis descolado. Meu avião havia aterrissado há 20 minutos, mas continuei voando em terra firme por mais 2 horas. Não me recordo se minhas bagagens vieram sozinhas até mim. Acredito que alguém tenha me alertado para pegá-las, logo após o beijo de recepção digno de aplausos. Ah, esses encontros de alma... Sempre tão intensos...

Ele, quando sorri, os olhos ficam pequeninos e os lábios se destacam. É convite para o toque. Eu, miúda que sou, me perco na imensidão do abraço, e o afago em meu cabelo desgrenhado é pedido para sorrir de volta.

Um olhar que acalma, que despe os meus pensamentos, e que diz o quão linda a vida é, mesmo quando o mundo parece ser dublê de "2012" em tempo real. Vê beleza até em riscos de um móvel desgastado pelo tempo, diria que "são marcas de uma história ali vivida". E sonha. Sonha por mim, por ele, pela Via Láctea inteira. Sempre achei que conviver com pessoas de almas sonhadoras é enriquecedor. Elas te mostram que sonhar é algo tão pleno, tão teu...

O timbre de voz é música, e foi trilha sonora da dança que fizemos às 16h32 daquela Terça-Feira ensolarada, à caminho do Starbucks, após a viagem. O atendente presenciou a cena e escreveu "Melhor Casal" em nossos copos ao invés de nossos nomes. Adorei a ousadia.

Cruzamos a porta de saída, parei em frente ao dono dos olhos mais sinceros que já tinha visto e disse: "No teu sorriso fiz morada, na qual eu não pretendo me mudar nunca mais. Eu vim pra ficar". Ele sorriu e me abraçou. Ali eu pude ter a certeza de que essa foi a coisa mais certa que eu poderia ter dito em toda a minha vida.

Ps.: Continua (...) (?)