O amor está no metrô
- Nadhia Dantas
- 1 de nov. de 2015
- 2 min de leitura

Naquela noite de terça-feira, o meu cabelo fez "cosplay" do personagem “Edward Mãos de Tesoura" e eu não estava nem aí para a plateia. Sabe quando o seu colega de trabalho faz burrada, o seu chefe joga a granada no seu colo e te dá 5 minutos para você desarmá-la, senão o estrago é grande? Pois é, o bom dia que a porteira me desejou quando saí do prédio não surtiu efeito, e para fechar minha noite com chave de latão, uma prova de Contabilidade me aguardava na faculdade. Bom dia é a mãe que te pariu.
Entrei no metrô que estava parado na Estação Sé sentido Jabaquara, como se estivesse participando de uma micareta em Salvador, andando e sendo levada pela multidão suada, só que sem o abadá que custa duzentos reais. Xinguei até a possível população que habitou o extinto planeta Plutão, quando dei de cara com um cara que não parecia um cara, e sim uma arte esculpida a dedo de tão lindo que era. Cheguei a pensar que ele tivesse fugido de uma daquelas exposições famosíssimas que acontecem na Pinacoteca de São Paulo e que causam filas de no mínimo, duas horas de espera.
Ele estava encostado na porta direita, vestindo uma blusa de moletom azul combinando com olhos, calça jeans larga, barba por fazer, cabelo bagunçado, a mochila na frente dos ombros e um livro na mão. Se eu quisesse chegar até ele, precisaria atropelar vários "usuários na via” dentro do vagão, então preferi observá-lo de longe, ao som de “Macaé” da Clarice Falcão no fone de ouvido. Entre olhares e sorrisos de lado, o refrão da música que dizia “Eu queria tanto que você não fugisse de mim, mas se fosse eu, eu fugia”, era a trilha sonora do momento, e eu disfarçava, olhando para a janela, mesmo sabendo que não conseguiria ver nada, pois o metrô estava abarrotado de gente.
Até hoje me pergunto qual era o nome do livro que ele estava lendo, quem sabe começaríamos conversando sobre os personagens e terminaríamos em um jantar no Terraço Itália, afinal não estava tão longe dali. Eu acabaria a prova, iria ao encontro dele, e enquanto tomássemos vinho, me contaria a mania mais estranha que tem, se também se apavora quando vê o Ronald Mcdonald, bolaríamos um plano para tocarmos as pirâmides do Egito, escolheríamos o nome do nosso casal de filhos e moraríamos no Canadá, com certeza eu acordaria no dia seguinte agradecendo a porteira pelo bom dia que tinha me desejado no dia anterior, mas os sonhos foram interrompidos logo após uma voz anunciar a próxima estação e as portas do vagão se abrirem. Não rolou whatsapp, "me procura no facebook, sou a segunda da lista" ou papo sobre o campeonato de futebol europeu. O dono dos olhos mais lindos do mundo partiu e não podia ter descido em uma estação melhor: Paraíso.
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